Há 50 anos, Mauá da Serra começava a replicar o Plantio Direto

10-10-2024

Da Redação FEBRAPDP

Em 1974, dois anos após o surgimento do Plantio Direto nas vizinhas terras de Rolândia, nos Campos Gerais do Paraná, com o pioneiro Herbert Bartz, o município de Mauá da Serra registrou a união de produtores rurais em torno da adoção do modelo como sistema produtivo nas propriedades locais. O marco deste movimento foi a realização da primeira compra das semeadoras Rotacaster RT80, da FNI, que chamou a atenção e acabou por agregar várias famílias de origem japonesas em torno do plantio direto. Um movimento que significou o início de um caminhar coletivo sustentado pela confiança no potencial daquelas práticas conservacionistas que apenas começavam mostra a que vinham.

É por reconhecer e precisar enfatizar a importância deste movimento que, neste ano, a Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto - FEBRAPDP escolheu Mauá da Serra como principal cenário para a celebração do Dia Nacional do Plantio Direto. O 23 de outubro marcará os 50 anos de um pioneirismo que ousou no processo de transferência e adoção de tecnologia. Em larga medida, até os dias de hoje, esse espírito está presente na expansão do Sistema Plantio Direto. Toda vez que um produtor, em algum lugar do Brasil ou até da América Latina, opta por implementar o sistema é essa consciência que está sendo evocada. Difundir o SPD é a razão de existir da própria FEBRAPDP.

Para Ricardo Ralisch, professor da Universidade Estadual de Londrina - UEL e conselheiro da FEBRAPDP, além de ter sido uma das primeiras regiões a acreditar e iniciar o SPD, Mauá da Serra representa a organização comunitária para a adoção do SPD. Este espírito de união familiar foi o que proporcionou também a fundação do Museu do Plantio Direto na cidade, em 2012, e que mantém maquinários, equipamentos, fotos e documentos, ajudando a contar boa parte da história desses 50 anos. “Isto deve ser reconhecido e valorizado, pois se distingue da realidade do agro brasileiro, em geral individualista e patriarcal. Neste sentido, é fundamental destacar as famílias dos pioneiros, cujos herdeiros continuam a melhorar o sistema, com as famílias Uemura, Yamanaka, Higashibara e Kamiguchi”, destaca.

Ralisch explica também que a celebração no dia 23 de outubro, apesar de ser um evento de cunho regional, terá abrangência nacional. “Haverá uma solenidade de homenagens, com apresentação de um vídeo produzido para o evento. No mesmo local será oferecido almoço e à tarde o público será convidado a visitar o Museu do Plantio Direto”, diz.

Convite

A federação elegeu a cidade para centralizar e ser a referência nacional neste mês de comemoração do Dia Nacional do Plano Direto. Será sobre tudo uma homenagem a esses pioneiros, que 50 anos atrás também ousaram, acreditaram e começaram a implantar essa tecnologia que revolucionou o Brasil, dando sequência ao pioneirismo de Herbert Bartz em 1972. Vamos estar lá presentes com toda a diretoria, vice-presidentes de vários estados do Brasil, produtores, lideranças e autoridades locais. Conclamamos a todos para participar e, é claro, também realizar as suas ações de campo, palestras, eventos, encontros, seminários, todos enaltecendo o Plantio Direto por todo o Brasil. Algo para o qual estamos preparando o Mapa do Dia do Plantio Direto”, convida Jônadan Ma, presidente da FEBRAPDP.

Divulgar os eventos inerentes que acontecem neste dia é uma forma de valorizá-los e visa criar uma hábito de reconhecimento da importância do SPD”, complementa Ralisch.

A erosão trouxe a evolução

Em 1974, Sergio Higashibara já pilotava trator em sua propriedade em Mauá da Serra, onde chegara em 1960, aos oito anos de idade. Ele vivenciou de perto todo o processo de evolução do Sistema Plantio Direto na região e como forma de preservar a história, participou da criação do Museu do Plantio Direto. Higashibara lembra bem do desenrolar de toda essa história:

50 anos atrás alguns agricultores de Mauá da Serra já se preocupavam em relação a conservação do solo e o meio ambiente. A região é formada por uma topografia acidentada e terras mistas com condições climáticas caracterizadas pelas chuvas regulares. Em alguns momentos, no entanto, as chuvas ocorriam em excesso e ultrapassavam a capacidade de absorção do solo. O resultado era o surgimento de erosões. Para resolver essa situação, em 1974 tivemos conhecimento de que um agricultor de Rolândia, o Sr. Herbert Bartz, estava iniciando uma maneira diferente de cultivar: o plantio direto. Foi quando as famílias Uemura e Yamanaka fizeram as primeiras experiências deste novo método. Através de demonstrações, divulgaram aos amigos da região como uma nova forma de controlar as erosões. Além disso, naquele tempo, com o uso do sistema convencional era necessário gradear toda área no mínimo três vezes. A prática também favorecia a compactação e, em consequência, gerava erosão”.

O começo foi muito difícil. Usávamos a semeadora Rotacaster RT80, equipamento que tinha baixo desempenho e muitos problemas. Máquinas de difícil operação no manejo com herbicidas que deixavam a desejar. Era comum as plantas invasoras tomarem conta da cultura. Apesar de todas as dificuldades, foi a melhor forma que encontramos para prosseguir cultivando e produzindo. Com o passar do anos, os institutos de pesquisas foram lançando novos produto, novas variedades que melhor se adaptavam, novas máquinas de plantio, máquinas mais eficientes na aplicação e realização dos tratos culturais. Assim fomos evoluindo. Graças a essa perseverança e com muita luta, hoje temos um país que produz alimento a muitas pessoas. Com o espírito de guardar essa memória do passado o grupo de produtores resolver construir o Museu do Plantio Direto de Mauá da Serra”, conta.