SPD é destaque em evento do Mapa sobre mitigação e adaptação às mudanças climáticas

13-03-2025

Da Redação FEBRAPDP

O Sistema Plantio Direto (SPD) foi tema central de um evento “Agricultura Sustentável – Sistema Plantio Direto, Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas”, promovido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), em parceria com a Federação Brasileira do Sistema de Plantio Direto (FEBRAPDP), nesta segunda-feira (10), em Brasília. O encontro, que integra as ações do Projeto SPD Agro+, discutiu políticas públicas, inovações científicas e práticas agrícolas sustentáveis que visam aumentar a produtividade e reduzir os impactos ambientais da agropecuária no Brasil.

O secretário de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo do Mapa, Pedro Neto, destacou o papel do SPD como parte fundamental do Plano Setorial para Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono (ABC+). “Cada meta por nós apresentada vem acompanhada de um pacote de como fazer, dando aos produtores rurais condições de entender, decidir e implementar práticas mais sustentáveis, como o SPD”, afirmou. Ele ressaltou ainda o empreendedorismo e profissionalismo do produtor rural brasileiro, que tem contribuído significativamente para o cumprimento das metas nacionais de enfrentamento às mudanças climáticas.

O evento evidenciou a coesão entre governo, setor privado e comunidade científica na promoção de práticas agrícolas sustentáveis. Luís Eduardo Rangel destacou a importância de uma Força Tarefa para acelerar a expansão do uso do SPD e a necessidade de uma base de dados confiável para monitorar a adoção dessas práticas. “Monitoramento, Relato e Verificação são palavras obrigatórias em qualquer sistema que quer ser considerado sustentável de fato”, afirmou.

Com os avanços apresentados, o SPD consolida-se como uma tecnologia essencial para a agricultura de baixa emissão de carbono, contribuindo para a redução das emissões de gases de efeito estufa e para a construção de uma agropecuária mais resiliente e sustentável no Brasil.

Sentados da esquerda para a direita: Lucio Damalia, Jonadan Ma, Professor Rattan Lal, John Landers e Ronaldo Trecenti. De pé: Juca Sá, José Guilherme Brenner, Marie Bartz, Luiz Pradella e Jeankleber Bortoluzzi.

Plano ABC+ e o papel do SPD na redução de emissões

Luís Eduardo Rangel, auditor fiscal federal agropecuário do Departamento de Produção Sustentável e Irrigação do Mapa, destacou que o Brasil possui um Plano Setorial da Agropecuária para adaptação e mitigação às mudanças climáticas, o Plano ABC+, que inclui o SPD como uma das tecnologias de baixa emissão de carbono. “O Sistema Plantio Direto já é considerado uma tecnologia de agricultura de baixa emissão de carbono desde a década de 2010 e cresceu muito em adoção com a popularização do Plano ABC e sua nova versão, o Plano ABC+”, explicou.

Rangel enfatizou a importância de práticas como a rotação de culturas, cobertura vegetal e mínimo revolvimento do solo para maximizar o potencial do SPD. “Com os três fundamentos cumpridos, o Sistema Plantio Direto garante o máximo de seu potencial de resiliência e adaptação às mudanças climáticas e ainda reduz as emissões de gases como o CO2 e o N2O”, afirmou. Ele também destacou a necessidade de políticas públicas e incentivos, como o Plano Safra e o mercado de carbono, para acelerar a adoção dessas práticas.

Resultados científicos e impactos positivos

Jonadan Ma, presidente da FEBRAPDP, ressaltou os resultados científicos obtidos com o SPD, que comprovam seu potencial de sequestro de carbono e melhoria da qualidade do solo. “Nós conseguimos perceber, por dados científicos, como ocorre o sequestro de carbono efetivo dentro das áreas com SPD, comparado com áreas de manejo inadequado ou vegetação nativa”, afirmou. Ele destacou que esses dados servirão de base para políticas públicas, pagamento por serviços ambientais e para o mercado de carbono.

Ma também enfatizou a importância do evento SPD Agro+ para demonstrar a eficácia do SPD em diferentes biomas brasileiros. “Quando adotamos um sistema plantio direto com seus plenos conceitos, estamos praticando uma agricultura que equivale praticamente à manutenção da vegetação nativa”, disse. Ele reforçou que os resultados do projeto mostram como a agricultura brasileira, baseada no SPD, é verdadeiramente sustentável.

A presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, elogiou a FEBRAPDP e o Mapa pela iniciativa, ressaltando o papel fundamental do Sistema Plantio Direto no desenvolvimento sustentável da agricultura tropical. “Ao discutirmos o Plano ABC, identificamos no plantio direto a tecnologia mais eficaz para a preservação do solo e a adoção da rotação de culturas. Dados de monitoramento revelam que, nos últimos anos, já recuperamos 4.200 projetos utilizando o SPD, o que possibilita a realização de duas a três safras na mesma área, impulsionando a expansão da agricultura brasileira. Em 50 anos, multiplicamos por cinco a produtividade do setor, evidenciando a importância da ciência e da tecnologia para o seu avanço”, destacou.

Principais resultados do Módulo 1 do SPD Agro+

O professor João Carlos de Moraes Sá (Juca Sá), especialista em dinâmica do carbono no SPD ministrou a palestra "No-till Systems Restore Soil Organic Carbon and Environmental Sustainability in Brazilian Biomes". A ideia do projeto nasceu em 2012 qdo fui fazer o Pós-Doutorado na The Ohio State University com o Dr. Rattan Lal e publicados um artigo na Soil Science Society America Journal. Esse artigo serviu de base para desenvolver todo o protocolo de amostragem do modulo I. Em 2017, o projeto foi aprovado pela Assembleia Geral da FEBRAPDP como projeto tematico (Módulo I). Em 2018, foi ampliado e incluidos o módulo II e III e aprovados pela Assembleia de 2018 da FEBRAPDP. Em 2020, submetido pela Euroclima+.

Os principais resultados do modulo I destacados por ele foram:

1. O SPD fundamentado nos seus princípios: a) não revolvimento do solo - exceto na linha de semeadura, b) manutenção da cobertura permanente do solo; c) diversificação da rotação de cultivos, recupera o C do solo perdido com a conversão da vegetação nativa em área agrícola e uso contínuo do preparo do solo. Dentre as 63 fazendas inseridas no projeto, 16 (25.4%) delas recuperaram o C no nível da vegetação nativa (VN) e outras 27 fazendas recuperaram entre 80 e 100% do C da VN.

2. A recuperação ocorreu até 100 cm de profundidade só perfil amostrado. Isso foi devido a consórcios como Milho + Braquiária, o uso do Mix de plantas que promove o desenvolvi- mento radicular profundo, agressivo e robusto que irá aportar C nas camadas mais profundas.

3. A compensação de terras, ou seja, para cada ha de SPD podemos evitar o desmatamento de outro ha de VN para produzir alimentos.

4. Recuperamos o C em 35 a 54 anos, ou seja, em uma geração.

5. Se expandirmos o SPD (fundamentado nos seus três princípios) para 20, 30 até 50% da área de Agricultura podemos neutralizar mais de 50% do que a agricultura emite.

6. O tripé para armazenamento de C é: quantidade (toneladas de massa seca - parte aérea e raiz) aportada, qualidade (mistura de especies) e frequência (quantas vezes por ano) de massa Seca aportada.

Em resumo, o SPD é o modelo de Agricultura que produz mais com menos e em harmonia com a Natureza.



IQP: Ferramenta para avaliação e certificação

Jeankleber Bortoluzzi, gerente administrativo e de projetos da FEBRAPDP, explicou que o Índice de Qualidade Participativo (IQP) é uma ferramenta chave para identificar padrões que diferenciam áreas bem manejadas no SPD daquelas com manejo convencional ou inadequado. “Na continuidade do projeto, vamos correlacionar informações dos módulos 1 e 3 com as notas das propriedades obtidas pela avaliação IQP no módulo 2. Isso permitirá calibrar o indicador para determinar a quantidade de carbono retido no solo, além de outros indicadores de saúde do solo, como estrutura e biologia”, detalhou.

Bortoluzzi acredita que a popularização do IQP será natural, especialmente se incorporada a processos de certificação. “O próprio produtor, ao perceber os benefícios da certificação, não apenas em termos de reconhecimento, mas também na melhoria contínua do solo e maior estabilidade na produção, buscará utilizá-la”, afirmou.

Expansão pode ocorrer em qualquer condição climática ou de solo

Para Marie Bartz, diretora-secretária da FEBRAPDP, a temática do evento está alinhada ao Projeto SPD Agro+. "O Projeto Sistema Plantio Direto: base para uma agricultura sustentável (SPD Agro+), por meio dos resultados gerados, mostra que a agricultura que utiliza o Sistema Plantio Direto como base de manejo é a melhor opção para mitigarmos os efeitos das mudanças climáticas e estarmos mais preparados para esses cenários", afirma.
 
Segundo ela, o SPD Agro+ deu o pontapé inicial e, pelos excelentes resultados, abre a possibilidade de expandir e replicar esse estudo em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Ministério do Meio Ambiente e demais entidades e instituições de pesquisa brasileiras e internacionais. "Essa expansão pode ocorrer em qualquer condição climática ou de solo, independentemente da cultura ou tamanho da área, permitindo traçar estratégias eficazes e sólidas para esses cenários", explica.
 
"Com relação ao módulo 3 (Indicadores de saúde do solo no Cerrado e Mata Atlântica: inventário e suas relações com os tipos de uso do solo) do Agro+, como comentei anteriormente, este foi um pontapé inicial e já tem nos trazido resultados, em sua grande maioria, muito positivos. Outros sinalizam questões que exigem maior atenção pelos impactos que podem causar, como os níveis de pesticidas no solo", destaca Marie. "A curto prazo, esperamos que esses resultados cheguem aos tomadores de decisão e sensibilizem para o incentivo e a força-tarefa na disponibilização de recursos para investir em estudos similares e completar as informações. Esses resultados, em breve, também serão compartilhados com os agricultores participantes, auxiliando-os no entendimento da dinâmica da saúde dos agroecossistemas e na tomada de decisão para o planejamento do manejo de suas culturas, otimizando a produção por meio da conservação e manutenção da saúde do solo. A médio e longo prazo, esperamos que essa força-tarefa se amplie e que esses indicadores, especialmente a biodiversidade, sejam reconhecidos e valorizados tanto pelos agricultores quanto pela sociedade, podendo ser revertidos em Pagamentos por Serviços Ambientais", conclui.