Tecnologias inovadoras favorecem qualidade dos sistemas intensificados de produção
26-08-2024
Por Sandra Brito, Embrapa Milho e Sorgo
Os sistemas de produção intensificados, mediante uso de tecnologias apropriadas, são importantes aliados do desenvolvimento sustentável das propriedades rurais. Eles se destacam pela capacidade de sequestrar o carbono atmosférico (CO2) e de estocá-lo no solo por meio da produção e decomposição das raízes.
Para debater sobre esse assunto, pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo realizaram o seminário “Carbono e o manejo adequado de sistemas de produção intensificados: benefícios para o produtor e para o meio ambiente”. O objetivo foi mostrar os resultados de pesquisas relacionadas ao sequestro de carbono nas atividades agropecuárias e as formas de redução da emissão do gás.
O evento aconteceu dia 22 de agosto, na Embrapa, em Sete Lagoas, e reuniu estudantes, bolsistas, profissionais da comunidade científica e acadêmica, produtores rurais e técnicos da assistência e da extensão rural. A realização foi da Embrapa com o apoio do Projeto Trijunção - Intensificação agrícola visando à sustentabilidade do uso de solos arenosos.
A adoção de práticas agrícolas sustentáveis favorece o aumento do sequestro de carbono. Essas práticas envolvem a combinação de cultivos agrícolas, arbóreos, pastagens e criação de animais de forma simultânea ou sequencial. São os denominados sistemas integrados de produção, que podem ser representados de quatro formas. A Integração Lavoura-Pecuária (ILP). A Integração Pecuária-Floresta (IPF), que inclui gramíneas, forrageiras e espécies arbóreas. OA Integração Lavoura-Floresta (ILF), que engloba culturas agrícolas anuais e espécies arbóreas. E, por fim, a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que utiliza gramíneas, forrageiras, culturas agrícolas anuais e espécies arbóreas.
“Embora a agricultura contribua para a emissão de gases de efeito estufa, ela também tem o potencial de mitigar esses impactos por meio da remoção desses gases, através de práticas sustentáveis. Essas práticas incluem a utilização desses sistemas integrados de produção, plantio direto, manejo de pastagens, animais jovens e de genética superior, melhoria da parte nutricional, uso estratégico de adubação, bem como possibilidade de adoção de insumos biológicos e leguminosas, dentre outras tecnologias já disponíveis e cuja adoção impacta positivamente na produção e na mitigação de gases de efeito estufa. A capacidade de sequestrar carbono no solo através do sistema de plantio direto com a rotação de culturas, incluindo plantas de cobertura, integra o conjunto de técnicas benéficas. São estratégias eficazes, que contribuem para a sustentabilidade do sistema”, explicou o pesquisador Arystides Resende Silva, na palestra ‘Carbono em sistemas de produção: conceitos relacionados com o desenvolvimento sustentável’.
“O solo contribui para o fornecimento de diversos serviços ambientais”, explicou o pesquisador João Herbert Moreira Viana na palestra ‘O componente solo como elemento-chave na regulação de serviços ecossistêmicos’.
“Esses serviços vão além do fornecimento dos produtos agropecuários mais conhecidos como os alimentos, as fibras e a bioenergia. Nos serviços ambientais, estão incluídos o fornecimento dos trabalhos chamados ecossistêmicos, como a conservação da biodiversidade e o controle do ciclo hidrológico. A lista abrange ainda os serviços associados aos seres humanos, que tratam das construções e das edificações, das áreas de lazer e do estoque de carbono”, disse Viana.
Protocolos CCN e CBC
“Sistemas com a presença do componente florestal contribuem para a neutralização do metano emitido pelo rebanho durante seu processo produtivo, mediante a retenção de carbono no solo e, principalmente, no tronco das árvores, além de permitirem a diversificação da atividade agropecuária. No entanto, sistemas sem a presença do componente florestal também apresentam potencial de mitigação das emissões de gases de efeito estufa. Eles estão relacionados com a sustentabilidade da agropecuária brasileira, que por sua vez está relacionada com a capacidade de cumprir com as necessidades do presente, sem comprometer as gerações futuras”. A reflexão é da pesquisadora Márcia Cristina da Silveira durante a palestra ‘Protocolo CBC: o potencial do manejo de pastagem para uma produção sustentável’.
A marca-conceito Carne Baixo Carbono (CBC) foi concebida e elaborada pela Embrapa. O objetivo dela é valorizar os sistemas de produção pecuários capazes de mitigar o metano emitido pelo rebanho durante o processo produtivo. Esses sistemas são conduzidos em pastagens bem manejadas, em que o processo produtivo é reconhecido, certificável e auditável.
“No Brasil, a produção de carne é fortemente embasada em pastagens, sendo um desafio e uma oportunidade a readequação e a otimização das áreas produtivas, com vistas à geração de aumento de renda e de menor impacto ambiental. Pesquisas mostram que pastagens manejadas de forma adequada, além de intensificarem a produção e diminuírem os riscos da atividade pecuária, constituem importante alternativa de proteção do solo por meio da cobertura vegetal. Além disso, colaboram para evitar a erosão, facilitando a infiltração e o armazenamento de água no solo e incorporando matéria orgânica que cooperam para o estoque de carbono no solo. Logo, o manejo de pastagens se torna uma ferramenta que nos permite dar mais um passo na busca pela eficiência produtiva, que leva em conta a qualidade do produto e do ambiente de produção”, comentou Silveira.
“A Embrapa também elaborou estudos de validação, desenvolvimento e objetivos da marca-conceito Carne Carbono Neutro (CCN). “O objetivo dessa marca é atestar a carne bovina, que apresenta emissões de gases de efeito estufa (GEE) neutralizados pela presença de árvores em sistemas de integração do tipo silvipastoril (Integração Pecuária-Floresta, IPF) ou agrossilvipastoril (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, ILPF). Todo o processo é parametrizado e auditável”, comentou Miguel Marques Gontijo Neto na palestra ‘O Protocolo CCN: ILPF e produção de Carbono Neutro’.
As marcas-conceito CCN e CBC surgiram no âmbito da Plataforma Pecuária de Baixa Emissão de Carbono, em uma parceria da Embrapa com a Marfrig Global Foods. A marca- conceito CCN já está disponível na Plataforma Agri Trace Rastreabilidade Animal, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A marca-conceito CBC provavelmente será disponibilizada nessa mesma página em breve.
Para conhecer mais sobre as marcas-conceito CBC e CCN, consulte os trabalhos disponíveis na biblioteca da Embrapa:
- Diretrizes Técnicas para Produção de Carne com Baixa Emissão de Carbono Certificada em Pastagens Tropicais: Carne Baixo Carbono (CBC), clique no link
- 50 perguntas, 50 respostas sobre a Carne Carbono Neutro (CCN), clique no link https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1093170/50-perguntas-50-respostas-sobre-a-carne-carbono-neutro-ccn