Conhecer o passado para plantar o futuro

Da Redação FEBRAPDP

Conhecer o passado para plantar o futuro
Famílias de pioneiros do SPD de Mauá da Serra e associados do Sindicato Rural de Mauá da Serra marcaram a presença no Museu “itinerante” do SPD na comemoração dos 60 anos da FAEP - Foto: Acervo Família Uemura

Completando 60 anos de estrada, a FAEP mostrou que segue firme na missão de impulsionar o agronegócio paranaense durante o seu Encontro de Líderes Rurais, que lotou o Expotrade com mais de 4 mil produtores, no último dia 5. A festa de aniversário virou palco para celebrar uma história que ajudou a transformar o Paraná num gigante da produção de alimentos. A oportunidade serviu também para mostrar como a história da agricultura paranaense se articula com a própria história do Sistema Plantio Direto. Por esse reconhecimento, o Museu do Plantio Direto, do município de Mauá da Serra, foi convidado a participar da celebração, enfatizando as bases técnicas e sólidas que ajudarão a escrever o futuro.

De acordo com João Lázaro Pires das Neves, gerente de Relações Sindicais do Sistema FAEP, a iniciativa de levar o Museu do Plantio Direto veio do presidente interino da entidade, Ágide Meneghette. A ideia, segundo ele, era “valorizar essa prática agrícola que transformou a agricultura estadual”. Segundo Lázaro, a conexão era natural, pois o Sistema Plantio Direto e a FAEP têm trajetórias que se entrelaçam no desenvolvimento do setor. Simbolicamente, colocar um acervo histórico e técnico no mesmo palco das grandes lideranças políticas é um reconhecimento explícito de que a inovação é um pilar do sucesso celebrado.

“Todo agricultor do Paraná sabe da importância da semeadura diretamente na palha... Mesmo assim, isso precisa ser reforçado, divulgado e enaltecido cada vez mais. Afinal, o primeiro SPD do Brasil ocorreu aqui no Paraná, em 1972. Ou seja, é motivo de orgulho para todos nós”, destacou Lázaro.

O gerente também ressaltou o papel transformador da técnica, que foi crucial para regiões como Mauá da Serra. “Na década de 1970, os agricultores sofriam com as chuvas e, consequentemente, a erosão. Até que a chegada da técnica de palhada... transformou a atividade”, contou. A proposta do museu, portanto, é guardar essa revolução para as futuras gerações. Para a FAEP, a parceria com a memória técnica é uma forma permanente de enaltecer o protagonismo do produtor paranaense.

“O Sistema FAEP sempre vai fazer isso, divulgar e valorizar o protagonismo do Paraná e dos seus produtores rurais”, diz ele. A lição que fica é clara: o futuro do agro passa por honrar e aprender com as raízes da sua própria revolução.

 

Para além da história

No evento, o Museu do Sistema Plantio Direto, foi representado por Celina Uemura, engenheira química, neta do pioneiro Yukimitsu Uemura, filha de Ademar Uemura e irmã de Vivian Uemura. Ela levou ao evento um acervo que conta a história dessa técnica revolucionária (fotos abaixo). "Muitos produtores rurais desconheciam a história do SPD", revelou Celina, que destacou a importância da divulgação. Para ela, ter o legado das famílias pioneiras reconhecido em um evento estadual dessa grandeza é uma conquista emocionante: "É uma alegria imensa e muita gratidão ver todo o trabalho, esforço e dedicação que meu avô e meu pai tiveram", afirmou.

No entanto, manter vivo esse patrimônio requer superação de desafios. "Para manter o Museu atualizado e mais interativo para as novas gerações, requer maiores recursos financeiros", explicou, acrescentando que a visibilidade com a FAEP pode ajudar a buscar apoio nacional. Com planos ambiciosos, o museu quer ir além da história tecnológica. "Queremos abordar não somente a história do SPD, mas os desafios sociais, ambientais e econômicos", disse Celina, vislumbrando um espaço que inspire futuras gerações e, daqui a décadas, também conte as novas histórias da agricultura digital e da bioeconomia.

Clique aqui para conhecer o Museu do Plantio Direto de Mauá da Serra, PR

Urgentes e necessárias

Para Ricardo Ralisch, professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Simbolicamente, o convite ao Museu Regional do Plantio Direto de Mauá da Serra para participar da celebração da FAEP representa o reconhecimento do setor agropecuário do Paraná e da sociedade à importância destas duas instituições destacadas com esta participação: o Sistema Plantio Direto, como o marco da transformação conceitual e da consolidação da agropecuária paranaense e brasileira e, principalmente, o Museu Regional do Plantio Direto de Mauá da Serra, iniciativa pioneira e inédita no Brasil e no Mundo, para preservar e divulgar o oneroso processo de desenvolvimento desta tecnologia que revolucionou nossa agropecuária e colocou o Brasil no cenário global. “Ainda é pouco, mas paulatinamente o Sistema Plantio Direto e o Museu de Mauá da Serra vão sendo valorizados”, diz ele.

Ele prossegue: “em um agronegócio altamente tecnificado e por vezes individualista, as lições dessa experiência de cooperativismo e compartilhamento de risco dos anos 1970 são ainda urgentes e necessárias, visto a acentuada polarização que temos vivenciado no âmbito político brasileiro e o enorme retrocesso na gestão ambiental que vivenciamos de 2018 a 2022, amplamente apoiada por setores que se dizem representantes da agropecuária brasileira, mas que representam na verdade, o agro individualista, extrativista e retrógrado da nossa antiga agricultura colonial”, enfatiza Ralisch.

Ele explica que vivemos um momento em que se vislumbra a possibilidade da agropecuária ser a única atividade que pode reequilibrar a atmosfera com os outros recursos naturais do planeta, reduzindo os efeitos nefastos das mudanças climáticas. Portanto, é fundamental que a atuação seja de forma conjunta, coletiva e com visão de longo prazo, como o desenvolvimento do Sistema Plantio Direto mostrou ser eficiente.

“A troca de experiência e de informações entre os agricultores foi fundamental para isto e a organização das informações no acervo do museu, enaltece esta ação coletiva e auxilia os interessados e os jovens a evitarem erros cometidos no passado, facilitando reconhecerem os desafios atuais. Complementarmente, o Museu evidenciar ter sido concebido e ser mantido pela comunidade, como forma de integração das pessoas e das famílias num objetivo comum: o bem-estar de todos”, observa o professor.

 

Coragem e persistência

O pioneirismo do Sistema Plantio Direto (SPD) no Paraná, iniciado por Herbert Bartz em Rolândia em 1972, foi um movimento coletivo que rapidamente se espalhou pelo estado. Segundo Marie Bartz, filha do pioneiro e uma das vozes ativas na preservação dessa história, “Mauá da Serra reforça esse caráter comunitário do pioneirismo, mostrando que o avanço do SPD no Paraná foi fruto de muitos agricultores visionários, não de um único ponto isolado”. Ela destaca que o Museu Regional do Plantio Direto, inaugurado em 2014 naquela cidade, cumpre um papel fundamental ao preservar essa trajetória e ampliar o entendimento de que a inovação agrícola paranaense “nasceu em várias frentes e permanece viva há mais de 50 anos”.

Reconhecido como uma revolução para a agricultura brasileira, o legado do Plantio Direto busca seu lugar como patrimônio cultural e tecnológico. Marie Bartz, atualmente vice-coordenadora da Comissão de Biologia do Solo da SBCS, diretora secretária da FEBRAPDP, afirma que o esforço é fazer com que essa revolução “seja reconhecida como um patrimônio cultural e tecnológico do estado e do país”, citando a lei que oficializa Rolândia como cidade-berço e projetos em tramitação. No entanto, ela avalia que “ainda é pouco diante da magnitude do que foi construído”, defendendo maior apoio institucional para a preservação de acervos privados e do próprio museu, que guardam um patrimônio material e imaterial essencial.

Diante de um agronegócio contemporâneo mais individualista, Marie Bartz vê lições urgentes na origem cooperativista do SPD. “O movimento do Sistema Plantio Direto no Brasil é único no mundo porque nasceu de baixo para cima”, ressalta, lembrando que os pioneiros compartilhavam conhecimento gratuitamente, guiados por um “propósito maior que qualquer interesse individual”. Para as novas gerações, o museu é uma ponte vital entre passado e futuro. “Como olhar para o futuro sem conhecer/reconhecer o seu passado?”, questiona. Ela acredita que a instituição mostra que a inovação nasce da “coragem e da persistência”, inspirando jovens a construir a agricultura das próximas décadas.

Fotos da participação do Museu do Plantio Direto na celebração dos 60 anos da FAEP