IAC lança disciplina pioneira para integrar agricultura conservacionista e regenerativa
Da Redação FEBRAPDP
Com 138 anos de história e tradição em pesquisa agrícola tropical, o Instituto Agronômico (IAC) de Ribeirão Preto, SP, está criando uma nova disciplina em seu curso de pós-graduação: "Agricultura Conservacionista e Regenerativa". Prevista para estrear em 2026.1, a iniciativa, é liderada pelo professor Denizart Bolonhezi e surge para preencher uma lacuna histórica na formação de especialistas e responder aos desafios contemporâneos do setor.
O objetivo do novo curso está na integração dos princípios da agricultura conservacionista — com a correta aplicação do Sistema Plantio Direto — aos conceitos da agricultura regenerativa, demonstrando que são complementares e não excludentes. Por estar numa região canavieira, haverá relação direta com a cultura da cana-de-açúcar, através do aproveitamento de experimentos de longa duração do IAC, que há quase 30 anos avaliam a semeadura direta de soja na palha da cana durante a reforma do canavial. O curso visa usar esse sistema consolidado como base para promover inovações que reduzam a dependência de insumos externos, como a introdução de plantas de cobertura nas entrelinhas da cana, tornando todo o sistema produtivo mais complexo, diversificado e sustentável.

Vista de parcelas experimentais comparando semeadura direta x preparo convencional em reforma de cana. Iacri/SP, 2018
Entusiasta da iniciativa, Rafael Fuentes, diretor da Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto (FEBRAPDP) e pesquisador do IDR-Paraná, entende que o Sistema Plantio Direto é a base fundamental da agricultura regenerativa e considera o professor Denizart Bolonhezi "um expert em Sistema Plantio Direto em cana-de-açúcar". Desta forma, a convergência desses caminhos desemboca numa disciplina fundamental, ainda mais pelo fato de acontecer dentro de uma instituição centenária como o IAC. Para ele, pode "trazer à tona essa questão do Sistema Plantio Direto como base da agricultura regenerativa, combatendo visões distorcidas que desvinculam esses conceitos”, explica ele.
"Quando eu comuniquei ao Dr. Fuentes sobre a minha iniciativa de apresentar uma disciplina focada em agricultura conservacionista e regenerativa, ele ficou bastante entusiasmado, por entender que o IAC pode ser um protagonista importante com a criação dessa disciplina na missão de estimular e fomentar mais a adoção do Sistema Plantio Direto no estado de São Paulo", explica Bolonhezi.

Amendoim sem semeadura direta sobre palhada de cana. Usina Santo Ângelo, MG. Ano 2008 - Foto: Paulo Zanandrea
Menor dependência de insumos externos
A disciplina pretende ir além da teoria, atuando como uma ponte entre a academia e o campo. O plano é utilizar experimentos de longa duração do IAC – alguns com mais de 30 anos – como laboratórios a céu aberto. Nesses locais, os alunos poderão analisar sistemas já consolidados, como a soja em palha de cana, que hoje ocupa cerca de 300 mil hectares no centro-sul do Brasil, e pensar na transição para uma agricultura com menor dependência de insumos externos.
Um dos objetivos centrais é fazer uma análise crítica sobre as abordagens atuais no mercado. O professor alerta para a visão distorcida de que a agricultura regenerativa veio para substituir a conservacionista. Ele cita exemplos práticos de culturas como amendoim, cana e mandioca, onde o uso de biológicos é promovido como "regenerativo", mas a prática do preparo intensivo do solo persiste, ignorando o princípio fundamental de controle da erosão. Para ele, não é possível regenerar sem antes conservar.
A conciliação dos dois conceitos será praticada por meio de visitas a propriedades rurais que já adotam modelos avançados de produção. A ideia é que os alunos levantem e quantifiquem indicadores dessas experiências bem-sucedidas, transformando o conhecimento empírico do produtor em dados técnicos que possam ser replicados.

Amendoim sobre palhada de cana, Iacri/SP, 2018
Parceria com empresas
A interação com o setor privado é outro pilar da nova disciplina. Segundo Bolonhezi, a proposta é estabelecer parcerias com empresas de máquinas, sementes e insumos biológicos para desenvolver projetos aplicados. Um exemplo em andamento é o foco na cultura do amendoim, que, para cada quilo de vagem produzido, pode perder até sete quilos de terra por erosão em sistemas convencionais. Os estudos visam testar inovações em semeadoras e o uso de biológicos para melhorar a performance do amendoim cultivado em palhada.
A disciplina tem como propósito gerar inovações e plataformas tecnológicas que respondam aos desafios reais do produtor rural, promovendo um salto de qualidade na adoção de sistemas de produção verdadeiramente conservacionistas e regenerativos. Vale destacar, no entanto, que a iniciativa simboliza também o reforço do compromisso de profissionais do setor ligados à agricultura regenerativa em, não só desenvolver uma agricultura tropical sustentável hoje, mas criar condições para a formação de futuros profissionais capazes de levar essa bandeira mais adiante.
Para mais informações, entre em contato com o professor Denizart Bolonhezi através do e-mail: denizart.bolonhezi@sp.gov.br ou acesse o site: https://www.iac.sp.gov.br/areadoinstituto/posgraduacao/









