Sistema Plantio Direto como base de uma economia regenerativa
Por Afonso Peche Filho, pesquisador científico do Instituto Agronômico de Campinas (IAC)
O desafio contemporâneo da agricultura não é apenas produzir alimentos de forma eficiente, mas fazê-lo de modo a restaurar e enriquecer os ecossistemas que sustentam a vida. Nesse sentido, o Sistema Plantio Direto (SPD), quando conduzido em sua forma plena, desponta como base estrutural de uma economia que se orienta pela regeneração ambiental. Mais do que prática conservacionista, o SPD se configura como estratégia para que a agricultura se torne o alicerce de uma nova racionalidade econômica, em que o desenvolvimento está atrelado ao funcionamento saudável dos sistemas naturais.
O SPD foi concebido para enfrentar a erosão e conservar o solo, mas sua adoção consistente revela uma vocação mais ampla: reconstituir a vitalidade do ecossistema agrícola. A cobertura permanente, a rotação diversificada e a ausência de revolvimento intenso permitem acumular matéria orgânica, ativar a biota edáfica e melhorar a estrutura biofísica do solo. Em outras palavras, o SPD cria um ambiente regenerativo, no qual os processos ecológicos não apenas se mantêm, mas se intensificam ao longo do tempo.
Essa condição transforma o SPD em verdadeiro pilar da resiliência produtiva, pois amplia a capacidade de infiltração e armazenamento de água, aumenta a ciclagem de nutrientes e fortalece a biodiversidade funcional. É nesse ponto que ele ultrapassa o campo técnico e passa a sustentar os princípios de uma economia regenerativa.
Uma economia regenerativa é aquela que busca deixar os ecossistemas em melhores condições após cada ciclo produtivo. O SPD atende a esse princípio ao:
- Fixar carbono no solo, reduzindo emissões e contribuindo para políticas de neutralidade climática.
- Gerar serviços ecossistêmicos, como infiltração hídrica, redução de enxurradas e equilíbrio biológico, fundamentais ao bem-estar coletivo.
- Diminuir custos de produção pela melhoria da fertilidade natural e da eficiência no uso de insumos.
- Aumentar a valorização territorial, pois áreas conduzidas sob SPD pleno são reconhecidas como ativos estratégicos em mercados diferenciados e em cadeias que demandam sustentabilidade.
Assim, o SPD não é apenas uma técnica agrícola, mas um fundamento econômico capaz de redefinir a relação entre agricultura e ambiente.
Apesar de seus potenciais, o SPD nem sempre é praticado em sua forma integral. Monocultivos contínuos, cobertura insuficiente e uso intensivo de insumos comprometem sua função regenerativa. Para que o SPD se consolide como base de uma economia regenerativa, é necessário:
- Aprimorar o manejo, ampliando a diversidade de espécies de cobertura e adotando bioinsumos.
- Fomentar políticas públicas e incentivos econômicos, que reconheçam o agricultor como agente de regeneração.
- Valorizar métricas ecológicas, como qualidade do solo e balanço de carbono, integrando-as às métricas de produtividade.
O Sistema Plantio Direto representa um alicerce estratégico para a transição da agricultura rumo a uma economia regenerativa. Ele revela que é possível conciliar produtividade, conservação e regeneração em um mesmo processo, transformando o solo em ativo econômico e ecológico. Quando praticado em sua plenitude, o SPD deixa de ser uma técnica isolada para se tornar base de um novo paradigma econômico, no qual prosperidade e vitalidade ecológica caminham juntas.









