Sistema Plantio Direto como base de uma economia regenerativa

Por Afonso Peche Filho, pesquisador científico do Instituto Agronômico de Campinas (IAC)

Sistema Plantio Direto como base de uma  economia regenerativa
Soja em SPD - Foto: Paulo Odilon Kurtz/Embrapa

O desafio contemporâneo da agricultura não é apenas produzir alimentos de forma eficiente, mas fazê-lo de modo a restaurar e enriquecer os ecossistemas que sustentam a vida. Nesse sentido, o Sistema Plantio Direto (SPD), quando conduzido em sua forma plena, desponta como base estrutural de uma economia que se orienta pela regeneração ambiental. Mais do que prática conservacionista, o SPD se configura como estratégia para que a agricultura se torne o alicerce de uma nova racionalidade econômica, em que o desenvolvimento está atrelado ao funcionamento saudável dos sistemas naturais.

O SPD foi concebido para enfrentar a erosão e conservar o solo, mas sua adoção consistente revela uma vocação mais ampla: reconstituir a vitalidade do ecossistema agrícola. A cobertura permanente, a rotação diversificada e a ausência de revolvimento intenso permitem acumular matéria orgânica, ativar a biota edáfica e melhorar a estrutura biofísica do solo. Em outras palavras, o SPD cria um ambiente regenerativo, no qual os processos ecológicos não apenas se mantêm, mas se intensificam ao longo do tempo.

Essa condição transforma o SPD em verdadeiro pilar da resiliência produtiva, pois amplia a capacidade de infiltração e armazenamento de água, aumenta a ciclagem de nutrientes e fortalece a biodiversidade funcional. É nesse ponto que ele ultrapassa o campo técnico e passa a sustentar os princípios de uma economia regenerativa.

Uma economia regenerativa é aquela que busca deixar os ecossistemas em melhores condições após cada ciclo produtivo. O SPD atende a esse princípio ao:

  • Fixar carbono no solo, reduzindo emissões e contribuindo para políticas de neutralidade climática.
  • Gerar serviços ecossistêmicos, como infiltração hídrica, redução de enxurradas e equilíbrio biológico, fundamentais ao bem-estar coletivo.
  • Diminuir custos de produção pela melhoria da fertilidade natural e da eficiência no uso de insumos.
  • Aumentar a valorização territorial, pois áreas conduzidas sob SPD pleno são reconhecidas como ativos estratégicos em mercados diferenciados e em cadeias que demandam sustentabilidade.

Assim, o SPD não é apenas uma técnica agrícola, mas um fundamento econômico capaz de redefinir a relação entre agricultura e ambiente.

Apesar de seus potenciais, o SPD nem sempre é praticado em sua forma integral. Monocultivos contínuos, cobertura insuficiente e uso intensivo de insumos comprometem sua função regenerativa. Para que o SPD se consolide como base de uma economia regenerativa, é necessário:

  1. Aprimorar o manejo, ampliando a diversidade de espécies de cobertura e adotando bioinsumos.
  2. Fomentar políticas públicas e incentivos econômicos, que reconheçam o agricultor como agente de regeneração.
  3. Valorizar métricas ecológicas, como qualidade do solo e balanço de carbono, integrando-as às métricas de produtividade.

O Sistema Plantio Direto representa um alicerce estratégico para a transição da agricultura rumo a uma economia regenerativa. Ele revela que é possível conciliar produtividade, conservação e regeneração em um mesmo processo, transformando o solo em ativo econômico e ecológico. Quando praticado em sua plenitude, o SPD deixa de ser uma técnica isolada para se tornar base de um novo paradigma econômico, no qual prosperidade e vitalidade ecológica caminham juntas.