FAO reconhece Sistema Plantio Direto como modelo de tecnologia para o mundo
Da Redação FEBRAPDP
Durante as comemorações dos 80 anos da FAO e do World Food Forum, no mês de outubro, a agricultura brasileira recebeu oficialmente um dos seus mais significativos reconhecimentos internacionais. O artigo Sistema Plantio Direto (SPD) – uma tecnologia genuinamente brasileira que atende às atuais demandas globais (No-Tillage System: A genuine Brazilian technology that meets current global demands - https://doi.org/10.1016/bs.agron.2025.02.001) – foi agraciado com o Reconhecimento Técnico Global da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), na área de “Gestão de recursos de terra, solo e água para agricultura resiliente e segurança alimentar”.
A conquista é fruto de uma parceria entre a Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS) e a Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto (FEBRAPDP), que submeteram a candidatura destacando o impacto, a abrangência e a replicabilidade do SPD.
Para a professora Dra. Marie Bartz, vice-coordenadora da Comissão de Biologia do Solo da SBCS, diretora secretária da FEBRAPDP e uma das redatoras da proposta, a honraria valida uma trajetória de décadas. “Este reconhecimento é mais que merecido e valoriza a nossa agricultura e sua história em práticas sustentáveis e resilientes, que a colocam na vanguarda dos modelos de produção a serem seguidos pelo mundo”, celebra.

Foto com todos os premiados. Cerimônia de entrega da premiação aconteceu no último dia 15 de outubro, em Roma, na Itália - Foto: Divulgação FAO
A emoção é ainda maior para Marie, que é filha de um dos pioneiros do sistema no país. “Meu pai, Herbert Bartz, foi uma das peças fundamentais no início da era da agricultura verdadeiramente sustentável no Brasil. Ver o SPD reconhecido pela FAO como uma referência global é, para mim, uma homenagem não apenas ao legado do meu pai, mas a todos os agricultores e pesquisadores que acreditaram”, complementa.
A Dra. Maria Eugênia Ortiz Escobar, presidente da SBCS, que avalizou e assinou o documento de candidatura, enxerga um significado estratégico profundo no prêmio. “Este reconhecimento da FAO é extremamente simbólico e estratégico. Ele reafirma a relevância da ciência do solo brasileira no cenário internacional, destacando nossa capacidade de gerar soluções concretas para desafios globais”, afirma.
Mas, afinal, o que convenceu um órgão das Nações Unidas sobre a relevância global do Plantio Direto?
Segundo a presidente da SBCS, a decisão foi baseada em princípios sólidos e resultados comprovados. “Não foi necessário muito esforço para demonstrar as vantagens... Trata-se de uma prática consolidada, amplamente estudada e aplicada, que reúne, de forma integrada, três princípios fundamentais da sustentabilidade: a cobertura permanente do solo, o mínimo revolvimento e a diversificação de culturas”, explica Maria Eugênia. “O que certamente chamou a atenção da FAO foi o caráter sistêmico e comprovadamente eficaz do SPD para recuperar solos degradados, reduzir emissões de carbono e fortalecer a segurança alimentar”.

Marie Bartz durante a cerimônia de premiação. Ela representou a SBCS e a FEBRAPDP no evento - Foto: Divulgação
Além de ser um título, a chancela da FAO funciona como um catalisador para a difusão global desta tecnologia genuinamente brasileira. “Mais do que um título, esse reconhecimento da FAO é uma chancela internacional que reforça a importância e a credibilidade do Sistema Plantio Direto como um modelo de agricultura sustentável e resiliente”, analisa Marie Bartz. “Agora, com o reconhecimento da FAO, ganhamos ainda mais visibilidade e credibilidade para inspirar políticas públicas, capacitar agricultores e fortalecer redes de conhecimento em regiões que enfrentam desafios de segurança alimentar”.
Esse projeto posiciona o Brasil em uma nova perspectiva perante o mundo. “O reconhecimento da FAO projeta o Brasil para o mundo não apenas como uma potência agrícola, mas como uma nação que tem muito a ensinar sobre sustentabilidade e regeneração dos solos”, destaca Marie. “Ajuda a reposicionar o país como exportador de conhecimento e de soluções sustentáveis, resultado de décadas de trabalho conjunto entre agricultores, pesquisadores, empresas e instituições”.
Olhando para o futuro, a SBCS planeja capitalizar essa conquista. “A SBCS pretende transformar esse reconhecimento em um catalisador para ações de maior alcance”, adianta a presidente Maria Eugênia, citando o fortalecimento de parcerias e a atuação em fóruns internacionais. Ela ressalta que o sucesso do SPD sempre dependeu de uma conquista coletiva, uma lição que guiará os próximos passos. “O avanço do SPD depende da integração entre conhecimento técnico e práticas locais. A SBCS pretende continuar promovendo eventos, publicações e fóruns que valorizem a experiência dos agricultores e a pesquisa científica de excelência”.
Como bem sintetiza Marie Bartz, a base de tudo é a união de saberes: “O campo é o grande laboratório vivo da agricultura, e os produtores são os verdadeiros agentes de inovação. Mais do que valorizar isoladamente agricultores e cientistas, precisamos construir pontes permanentes entre eles. É nessa colaboração que nascem as soluções mais transformadoras”.
A cerimônia oficial de premiação já ocorreu em Roma, mas o legado deste reconhecimento está apenas começando, pavimentando o caminho para que a expertise brasileira em agricultura sustentável continue a inspirar e transformar sistemas alimentares ao redor do globo.
A SBCS e FEBRAPDP, agradecem a indicação realizada pela Professora Dra. Lúcia Anjos, Conselheira da SBCS e membro do ITPS/FAO (Painel Técnico Intergovernamental sobre Solos da FAO) onde representou o Brasil até junho de 2025 e aos membros da diretoria da FEBRAPDP, Rafael Fuentes-Llanillo e Ricardo Ralisch, pelo auxílio na redação da proposta submetida.
Brasil se destaca em premiação global de sustentabilidade com soluções inovadoras
No total, 249 trabalhos foram premiados em todo mundo, e o Brasil se destacou como uma potência em inovação agropecuária e sustentável. Instituições nacionais foram reconhecidas pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). As premiações abrangem desde tecnologias de ponta no campo até cooperação internacional, pintando um panorama de liderança do país no setor.
A cerimônia de premiação, realizada na sede da FAO, em Roma, em 15 de outubro, fez parte do Fórum Mundial de Alimentação e das comemorações do 80º aniversário da organização. Em um reconhecimento de destaque, o próprio Governo do Brasil foi agraciado com um prêmio especial por sua significativa contribuição para a South-South and Triangular Cooperation (SSTC), solidificando sua posição como um parceiro global chave no desenvolvimento agrícola.
Da esquerda para direita: Marcelo Molento, professor da UFPR; Ana Beatriz Oliveira, reitora da UFSCar; Marie Bartz, da FEBRAPDP; Dra. Silvia Massruhá, presidente da Embrapa; Embaixador Ruy Pereira, diretor da Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE), e Gabriel Quintana, representante do Instituto ImaFlora - Foto: Divulgação
Inovações Nacionais Premiadas
As soluções brasileiras premiadas se distribuíram em diversas categorias, demonstrando a versatilidade e o impacto da pesquisa nacional:
- Gestão de Terras e Solos: A parceria entre a Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS) e a Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto (FEBRAPDP) foi laureada pelo Sistema de Plantio Direto, celebrado como "uma tecnologia genuinamente brasileira que atende às demandas globais atuais". Na mesma linha, a Universidade de São Paulo (ESALQ) apresentou o SOHMA KIT®, um kit portátil para avaliação da saúde do solo diretamente no campo.
- Tecnologia a Serviço do Meio Ambiente: A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) foi premiada pela plataforma SeloVerde, uma ferramenta governamental que faz uma verificação técnica prévia ambiental nos estados do Pará e de Minas Gerais. Já o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) destacou-se com o Sistema de Estimativa de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), crucial para o monitoramento climático do país.
- Produção Vegetal Sustentável: O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) foi reconhecido pelo desenvolvimento de variedades de citros resilientes ao clima. A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) brilhou com seus avanços em práticas agronômicas, desenvolvendo e disseminando métodos regenerativos e orgânicos para a transição agroecológica.
- Pecuária e Agricultura Familiar: A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) foi duplamente premiada. Seu programa "Balde Cheio", que transforma a produção leiteira por meio do conhecimento, foi um dos destaques, assim como as tecnologias para manejo florestal sustentável desenvolvidas pela corporação. O Ministério da Agricultura (Mapa) foi reconhecido pelo Programa Mais Leite Saudável, e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) pela sua assistência técnica e gerencial, uma solução inovadora que gera renda para agricultores familiares. A Universidade Federal do Paraná (UFPR) apresentou um protocolo de tratamento seletivo do gado para controle do carrapato, reduzindo a resistência a acaricidas.
O conjunto de premiações não apenas celebra conquistas individuais, mas também evidencia um ecossistema robusto de ciência, tecnologia e políticas públicas que posiciona o Brasil na vanguarda da discussão sobre segurança alimentar e sustentabilidade planetária.









