Dia Mundial do Solo: momento oportuno para reflexões

Da Redação FEBRAPDP

Dia Mundial do Solo: momento oportuno para reflexões
Foto: Lilian Alves/Embrapa

Nesta sexta-feira, dia 5 de dezembro, celebra-se o Dia Mundial do Solo. Ente vivo e base para a produção de tudo que nos alimenta. Portanto, criada em 2013 pela ONU, como a própria data propõe, trata-se de um momento conjunto e mundial para que tenhamos a atenção especialmente chamada para nossos solos, sua importância e significado. Não obstante, é também uma data absolutamente oportuna para que possamos refletir acerca da base de nossa vida. Por essa razão, preparamos para hoje uma matéria especial, para a qual ouvimos produtores, pesquisadores e professores que representam uma pequena amostragem do crescente número de profissionais cada vez mais atentos e conscientes de seus papéis individuais nesse grande sistema.

Perguntamos a cada um deles: neste Dia Mundial do Solo de 2025, o que devemos comemorar e quais os pontos de alerta aos quais devemos estar alertas? A seguir, as ricas respostas:

O primeiro depoimento é o de Franke Dijkstra (foto: YouTube), produtor rural no Paraná e um dos pioneiros no Sistema Plantio Direto no Brasil, é simples, direto e profundo: “O solo tem vida e por isto deve ser tratado com muito carinho.”

 

Dra. Ieda Mendes, pesquisadora do Departamento de Solos da Embrapa Cerrados - Foto: Divulgação Embrapa

Motivos para celebrar: Neste Dia Mundial do Solo de 2025, é preciso celebrar um avanço essencial: cresce, entre quem trabalha com a terra, a percepção de que o solo não se limita a argila, silte e areia, mas é um organismo vivo. A compreensão da importância de manter solos vivos, saudáveis e biologicamente ativos nas lavouras é, hoje, um horizonte que se amplia.

Esse despertar de consciência é fundamental. Há alguns anos, ainda predominava o conceito puramente mineralista de fertilidade, que enxergava o solo de forma inerte. A mudança de perspectiva representa um passo decisivo.

Atualmente, com a valorização da saúde do solo, torna-se cada vez mais evidente que ele é o grande trabalhador das nossas lavouras. Por isso, merece ser manejado da melhor forma possível, garantindo que possa atuar de maneira plena e sustentável, sempre em condições saudáveis.

Motivos de alerta: Este é um alerta muito especial para aqueles que fazem a agricultura acontecer hoje. Vivemos um momento único em nossa relação com o solo, marcado por possibilidades transformadoras. Atualmente, temos a convicção de que, por meio de tecnologias como a bioanálise do solo — com a determinação de enzimas como a beta-glicosidase e a arilsulfatase —, podemos estabelecer um verdadeiro diálogo bioquímico com a terra. Isso nos permite acessar a memória do solo, compreender suas histórias e necessidades de forma inédita.

À medida que essa percepção se tornar mais clara e acessível aos nossos agricultores, transformações profundas irão ocorrer nessa relação. Confesso que fico entusiasmada e feliz com esse horizonte — tanto que até gostaria de estar começando minha carreira em agronomia agora. Coisas extraordinárias estão por vir, a partir do momento em que compreendermos que, hoje, temos condições de conversar com nossos solos, entendê-los e aprender com as histórias que eles têm para nos contar.

 

Rodrigo Alessio, produtor rural em Faxinal dos Guedes, SC, engenheiro agrônomo e vice-presidente da FEBRAPDP por Santa Catarina - Foto: Acervo pessoal

Motivos para celebrar: Recordo aqui, aprofundando um pouco a reflexão, de Carlos Crovetto, produtor e pioneiro do Plantio Direto nos solos vulcânicos do Chile, que sempre mencionava a Pachamama – assim os povos originários chamavam o solo, a deusa da fertilidade. Acho essa analogia riquíssima para os tempos atuais, porque o solo, como já intuíam há muito tempo, é o que gera a vida. Por isso, devemos ter um olhar devocional para o nosso solo, uma espécie de gratidão permanente.

Motivos de alerta: Gostaria de alertar sobre um ponto importante. A agricultura convencional seguiu um caminho excessivamente extrativista, com uma visão reducionista e alta dependência química. Esse exagero levou a um desequilíbrio, cujas consequências hoje são visíveis. Precisamos, portanto, reverter essa trajetória, resgatando a funcionalidade do solo para devolver seu equilíbrio. Felizmente, já dispomos de diversas ferramentas para isso, o que nos permite alcançar ganhos de rendimento e estabilidade produtiva. O foco deve ser a construção de um ambiente produtivo saudável e integrado, com menor custo e menor dependência externa.

É fundamental repensar as métricas de sucesso. Em vez de priorizar apenas a produtividade medida em sacas por hectare, devemos avaliar três aspectos centrais: 1 - a qualidade do solo — se ele está se tornando mais vivo e saudável ou se está se degradando; 2 - a adequação das técnicas e tecnologias aplicadas à realidade local; e 3 - a rentabilidade real: ou seja, a margem de lucro por hectare. Muitas vezes, uma produtividade moderada pode resultar em alta rentabilidade, o que é mais sustentável a longo prazo. Portanto, a proposta é essa mudança de perspectiva: valorizar o equilíbrio do ambiente produtivo, a adequação das práticas e a rentabilidade econômica, em vez de perseguir apenas volumes de produção. É um alerta para uma agricultura mais consciente e sustentável.

 

Dra. Maria Eugênia Ortiz Escobar, presidente da SBCS e professora do Departamento de Ciências do Solo da Universidade Federal do Ceará (UFC) - Foto: Divulgação Portal da UFC

Motivos para celebrar: No dia 5 de dezembro celebramos o Dia Mundial do Solo, uma data instituída pela FAO para chamar atenção sobre a importância desse recurso essencial e sobre o quanto dependemos dele para viver bem. O solo é a base de tudo: da produção de alimentos à regulação da água, do ciclo dos elementos à qualidade das paisagens onde habitamos.

A campanha deste ano — “Solos Saudáveis para Cidades Saudáveis” — reforça que o solo vai muito além da agricultura. Mesmo nos centros urbanos, é a qualidade do solo que influencia diretamente nossa qualidade de vida: regula a drenagem, reduz riscos de enchentes, favorece áreas verdes, mitiga ilhas de calor e contribui para um ambiente mais saudável.

Como cientistas do solo, celebramos a oportunidade de mostrar à sociedade que, se todos contribuírem para a conservação e o uso sustentável dos solos, construiremos condições melhores para nós e para as gerações futuras.

Motivos de alerta: O alerta não é apenas para os agricultores; é para todos nós. Como professora, costumo reforçar aos meus alunos — futuros profissionais que estarão em contato direto com produtores — que conhecer o solo é o primeiro passo para cuidar e conservar.

Precisamos compreender que conservar o solo não significa apenas produzir mais: significa garantir qualidade de vida no presente e no futuro. Solo, água e ar estão interligados. Ciclos fundamentais, como o da água e os ciclos biogeoquímicos dos nutrientes (como carbono, nitrogênio, fósforo e enxofre), dependem diretamente do solo, pois muitos desses processos acontecem nele.

Solos de boa qualidade sustentam alimentos saudáveis, ecossistemas equilibrados, cidades mais resilientes e um ambiente mais seguro para todos. Por isso, preservar o solo é um compromisso coletivo — técnico, ético e social.

 

Gleyciano Vasconcellos, produtor rural e empresário em Rio Brilhante, MS, e vice-presidente FEBRAPDP por Mato Grosso do Sul - Foto: Acervo pessoal

Motivos para celebrar: Devemos celebrar o solo porque ele é a origem de tudo. Solo vivo significa alimento, produtividade e futuro. Sem ele nada permanece.

Motivos de alerta: O alerta para quem vive a agricultura hoje é claro. O solo está no limite em muitas áreas e só volta a responder quando é tratado como organismo vivo. Compactação, queda de matéria orgânica e perda de vida microbiana já estão comprometendo a eficiência dos insumos e a rentabilidade. O caminho é reforçar o manejo biológico e regenerar a base produtiva. Solo bem cuidado, com vida ativa e biologia equilibrada, devolve produtividade, estabilidade e eficiência. O produtor que enxergar isso agora será o que colherá melhor amanhã.

 

Dr. Afonso Peche Filho, pesquisador científico do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) - Foto: Portal Katawixi (www.katawixi.com)

Motivos para celebrar: O Dia Mundial do Solo não é um dia de celebração, mas sim de luta. É um dia em que devemos emprestar nossa voz e nossa inteligência ao solo, para compreender os problemas causados por sua ocupação e uso inadequados — que impedem o atendimento à dinâmica ecológica que lhe é essencial.

Portanto, nesta data, precisamos alertar a humanidade. É um dia de alerta e de luta, para que todos compreendam, protejam e queiram conhecer o solo, mantendo — e não reduzindo — sua capacidade produtiva. No dia 5 de dezembro, lutamos para dar voz ao solo, para entender como podemos ampliar sua proteção, como utilizá-lo de maneira a melhorar ou preservar sua produtividade. Esse é um propósito fundamental.

Motivos de alerta: O alerta que fazemos diz respeito à leitura do mundo imediato do agricultor: sua propriedade, sua área agrícola, aquilo que está diante dele. Nele, observamos os efeitos antrópicos da ação humana, do trabalhador do campo. O que acontece, por exemplo, quando se mexe ou se expõe o solo? Constatamos níveis alarmantes de processos erosivos em diversas situações, com uma perda progressiva da biodiversidade do solo — tudo isso em decorrência da atividade agrícola. Quando essa atividade não está em harmonia com o solo, prejudica diretamente a sua saúde. Portanto, cuidar da saúde do solo é fundamental.

Desenvolver a capacidade de analisar e avaliar é essencial para melhorarmos o tipo e a forma de agricultura que praticamos. Vale lembrar ainda que o agricultor que verdadeiramente cultiva não produz apenas mercadorias — como soja, milho, café ou cana —, mas sim ambientes produtivos e solos férteis. A verdadeira arte de agricultar significa, acima de tudo, produzir solos produtivos.

 

Dr. Pedro Luiz de Freitas, pesquisador da Embrapa Solos - Foto: Divulgação Embrapa

Motivos para celebrar: Há alguns anos a FAO e a Parceria Global pelo Solo reservam essa data para lembrar a importância do solo para a produção de alimentos e segurança alimentar. Esse ano o tema é SOLOS SAUDÁVEIS PARA CIDADES SAUDÁVEIS – oportunidade para entender como o solo afeta os centros urbanos especialmente quando as mudanças climáticas aumentam a ocorrência de eventos de chuvas, ventos e secas intensos. Como o solo pode prevenir a ocorrência de enchentes ou ar no resfriamento das cidades. Como o solo armazena a água e diminui o efeito de secas. Como o solo pode retirar carbono da atmosfera e como pode melhorar o ar e a água nas cidades.

Mas, principalmente, como o solo pode matar a fome das populações que vivem nas cidades e ainda garantir a manutenção da vida para microrganismos e pequenos animais como minhocas que vivem no solo e os médios e grandes animais que circulam em sua superfície. O solo pode ainda ser o substrato para o cultivo nas áreas urbanas e periurbanas, levando alimentos frescos para essas populações em custos muito baixos.

Motivos de alerta: Diria que solos saudáveis são a base para produzir alimentos em quantidade e COM qualidade e que eles já dominam s práticas que a ciência agronômica recomenda para ter Solos saudáveis. Consumidores no Brasil e no exterior E OS MERCADOS INTERNACIONAIS reconhecem e valorizam o seu esforço e aceitam a ideia de, POR MEIO DO RASTREAMENTO DA ORIGEM DAS COMMODITIES, é possível conhecerem melhor QUAIS SÃO AS práticas daS AgriculturaS Regenerativa e Conservacionista, que tem os princípios do SPD como base, utilizadas.

Hoje, A RELAÇÃO DO AGRICULTOR COM O SOLO É DE RESPEITO. O solo passou a ser um parceiro que garante o sucesso da produção agropecuária. O solo deve estar vivo para exercer suas funções de, além da produção de alimentos, fibras e matérias primas, ser um filtro vital para a água e o ar, um regulador climático e hídrico, um depositório de vida e biodiversidade e um eficiente reciclador de nutrientes. O motor que mantém esse solo vivo e funcional é, indiscutivelmente, a matéria orgânica.

 

Jônadan Ma, presidente da Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto - FEBRAPDP - Foto: Divulgação

Motivos para celebrar: Quando falamos em solo, lembramos imediatamente da nossa agricultura, que se desenvolve sobre ele, assim como dos recursos hídricos que dele se originam — das fontes aos rios que correm sobre a superfície. É o solo que recebe a água da chuva, sustenta nossas áreas de preservação ambiental e nossos biomas, e também serve de base para nossas residências, nosso trabalho e nossos ativos de produção, que garantem o nosso sustento.

Portanto, o solo é fundamental, e grande parceiro dele está nas mãos do produtor rural. O produtor brasileiro tem plena consciência de que, preservando o solo, preserva também o futuro do planeta, uma vez que tudo depende do que acontece sobre ele. As práticas conservacionistas e regenerativas, promovidas com base no sistema plantio direto, são de fundamental importância — não apenas para a conservação do solo, mas também para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, reduzir a emissão de gases do efeito estufa e promover o sequestro e a retenção de carbono no solo.

Tais ações são proporcionadas pelo plantio direto e, por isso, a FEBRAPDP segue trabalhando, promovendo essa conscientização e mostrando que o produtor está fazendo a sua parte. O mundo inteiro precisa valorizar quem trabalha e preserva o solo — em grande medida, o produtor brasileiro, que atua com responsabilidade e produz com sustentabilidade.

Motivos de alerta: Gostaria de alertar para um ponto fundamental: precisamos cuidar do solo, que nada mais é do que a pele do nosso planeta. Devemos protegê-lo com o mesmo cuidado que dedicamos à nossa própria pele. Para isso, é essencial adotarmos três princípios básicos.

O primeiro é manter o solo sempre coberto, a fim de protegê-lo, reter sua umidade e conservar sua biologia e estrutura física. O segundo princípio, igualmente importante, é trabalhar com o mínimo revolvimento possível do solo durante o plantio de qualquer lavoura ou cultura, evitando assim sua agressão. Por fim, em terceiro lugar, é crucial trabalhar com biodiversidade e rotação de culturas, práticas que também promovem a saúde do solo. Esses princípios são essenciais para que o solo cumpra sua função de sustentar o planeta. Portanto, preservar e alimentar o solo significa, em última instância, alimentar e preservar a própria humanidade.

Nesta quinta-feira, dia 4, foi lançado o Manual de Biologia do Solo. Para baixar, acesse: https://plantiodireto.org.br/uploads/saude-do-spd/Demetrio-et-al-(2025)-Manual-de-Biologia-do-Solo.pdf