Evento técnico e demonstrações práticas marcam celebração dos 30 anos de SPD em Quinze de Novembro, RS

Da Redação FEBRAPDP

Evento técnico e demonstrações práticas marcam celebração dos 30 anos de SPD em Quinze de Novembro, RS
Fotos: Divulgação CAT Quinze de Novembro

No dia 30 de janeiro, o município gaúcho de Quinze de Novembro foi palco de um evento marcante para a agricultura sustentável: a comemoração dos 30 anos da chegada regional do Sistema Plantio Direto (SPD). Estiveram reunidos agricultores, pesquisadores, empresas e representantes da Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto (FEBRAPDP). O encontro aconteceu na Granja Vânia e durou um dia inteiro, com muitas homenagens e promoção de discussões técnicas sobre as práticas ideais para o manejo sustentável do solo.

Durante o evento, os participantes acompanharam uma dinâmica prática que ilustrou a eficiência do sistema. Uma colheitadeira foi utilizada para colher o milho e atingiu a impressionante marca de doze toneladas por hectare, mesmo sendo cultivado em regime de sequeiro. Em seguida, um rolo-faca aplainou a palhada, e uma plantadeira realizou a semeadura direta de feijão, demonstrando a integração de culturas e a importância da cobertura permanente do solo.

Presente no evento, Marie Bartz, diretora-secretária da FEBRAPDP, destacou a relevância do Sistema Plantio Direto na Palha, enfatizando que o método exige a manutenção de palhada e cultivos durante os 365 dias do ano. "O verdadeiro sistema não é apenas uma técnica, mas um compromisso com a cobertura permanente do solo, o que garante produtividade e sustentabilidade a longo prazo", afirmou.

Marco

Há três décadas, a Granja Vânia vem adotando o SPD, acumulando palhada, raízes e matéria orgânica, o que resultou em um perfil de solo fértil e altas produtividades. O evento serviu não apenas para celebrar essa trajetória, mas também para reforçar a importância do SPD como modelo de agricultura conservacionista, capaz de conciliar produção e preservação ambiental.

De acordo com Vanderlei Neu, produtor rural e engenheiro agrônomo e presidente do Clube Amigos da Terral do município de Quinze de Novembro, o encontro foi considerado um marco para a região, destacando-se como um exemplo de inovação e responsabilidade no campo. “Agricultores e técnicos presentes saíram com a mensagem clara: o futuro da agricultura passa pela adoção de sistemas que respeitem o solo e promovam a sustentabilidade”.

Adoção do SPD precisa crescer

Para Neu, o Rio Grande do Sul ainda está longe de aplicar o Sistema Plantio Direto na Palha de forma ideal. Ele explica que o cultivo predominante na região é a soja, que deixa pouca palhada após a colheita, limitando a cobertura do solo. Apesar disso, Neu destaca que mesmo um plantio direto mal conduzido traz benefícios significativos, como a redução da erosão e a melhoria da qualidade do solo. "O impacto ambiental é positivo porque minimizamos muito as perdas de solo por erosão", afirma. Além disso, o modelo trouxe ganhos para os agricultores, a natureza e até para as prefeituras, que antes enfrentavam problemas constantes com estradas danificadas pelas chuvas e enxurradas.

No entanto, a produção de soja e milho, aliada à forte presença da bacia leiteira na região, dificulta a adoção plena do sistema. Neu explica que grande parte da palha é retirada do sistema para alimentar o gado, seja na forma de silagem ou pastagem. "Isso atrapalha a condução do verdadeiro plantio direto, que exige cobertura permanente do solo", ressalta. Apesar dos desafios, o especialista reforça que os avanços já alcançados são significativos, mas é necessário aprimorar as práticas para garantir a sustentabilidade e a produtividade a longo prazo.

Virada na agricultura com SPD

A década de 1990 trouxe uma transformação radical para a agricultura no Rio Grande do Sul, especialmente a partir de 1994, quando a maioria das propriedades começou a abandonar o sistema convencional de plantio. O gatilho para essa mudança foi uma série de chuvas torrenciais em novembro de 1993, que devastaram lavouras de soja recém-plantadas no sistema convencional. O evento, considerado uma catástrofe, levou pesquisadores e instituições como o Fundacep Fecotrigo, de Cruz Alta a promoverem palestras e conscientizar os agricultores sobre a necessidade de adotar o plantio direto. A adesão foi significativa, com muitos produtores investindo em plantadeiras e, em menor escala, em plataformas para colher milho.

Neu explica que, no entanto, essa transição não foi fácil. A falta de conhecimento técnico e a pouca familiaridade com as novas práticas geraram inúmeros desafios. A aplicação de defensivos, por exemplo, era feita de forma inadequada, com doses incorretas ou em horários impróprios, o que comprometia a eficácia. Segundo ele, além disso, o solo argiloso da região, já degradado pelo plantio convencional, estava altamente pulverizado, dificultando o plantio. Em áreas de pecuária leiteira, onde o gado era retirado para o plantio imediato, a falta de chuva após a semeadura causava problemas de emergência das plantas. A proteção das sementes também era precária, e o controle de invasoras e pragas, como o tamanduá-da-soja, representava um grande obstáculo.

Hoje, décadas depois, a agricultura evoluiu significativamente, com avanços tecnológicos que facilitam o manejo de pragas e doenças. No entanto, a lição mais valiosa desse período foi a importância da rotação de culturas. "A rotação é o melhor inseticida, o melhor herbicida e o melhor fungicida", destaca Vanderlei Neu, reforçando que a diversificação de cultivos é essencial para a sustentabilidade e a produtividade. Apesar das dificuldades iniciais, a adoção do plantio direto se consolidou como um marco na agricultura gaúcha, trazendo benefícios ambientais e econômicos que perduram até os dias atuais.

Revolução tecnológica

O maior impacto do Sistema Plantio Direto foi, para Neu, a redução da perda de solo e o aumento gradual da produtividade nas lavouras. Além dos benefícios para os agricultores, as prefeituras também foram favorecidas, já que o sistema diminuiu os estragos nas estradas municipais. Antes, a água das chuvas era direcionada para as estradas por meio de terraceamentos, causando danos frequentes e gerando custos elevados com manutenção. Com a adoção do plantio direto, essa prática foi minimizada, resultando em uma gestão mais eficiente das vias públicas em todo o estado.

A transição para o novo sistema também impulsionou uma revolução tecnológica no setor agrícola. As indústrias tiveram que se adaptar, desenvolvendo máquinas específicas para o plantio direto, como plantadeiras, plataformas para colheita de milho e rolo-faca. Essa mudança gerou empregos e impulsionou a engenharia agrícola, já que os implementos usados no sistema convencional se tornaram obsoletos. "Foi uma mudança radical", destaca Neu, lembrando que a cultura do milho ganhou força com a nova tecnologia. Até hoje, a adoção do plantio direto continua a gerar avanços e oportunidades no setor, consolidando-se como um marco na agricultura moderna.

Protetores do Meio Ambiente

Ao contrário da visão que muitas vezes taxam os agricultores como criminosos ambientais, o Sistema Plantio Direto tem provado ser um aliado da biodiversidade. Com a adoção do sistema, espécies animais que haviam desaparecido durante o período do plantio convencional voltaram a ser vistas nas propriedades. A palhada, característica do plantio direto, oferece proteção e alimento para a fauna, resultando em um aumento significativo da biodiversidade. Animais como veados, quatis e ouriços, atraídos por culturas de cobertura como o nabo forrageiro, tornaram-se comuns nas lavouras. "O ganho ambiental foi gigante", destaca o presidente do CAT de Quinze de Novembro, ressaltando que a flora também se beneficiou com a prática.

Além da recuperação da fauna e da flora, o plantio direto contribuiu para a redução do impacto de inseticidas e fertilizantes nos rios, permitindo que a vida aquática se recuperasse. No entanto, Neu faz uma ressalva: o sistema ainda não é aplicado de forma ideal em toda a região, faltando rotação de culturas e cobertura permanente de palha. Ainda assim, mesmo com essas limitações, o plantio direto trouxe avanços ambientais expressivos, mostrando que os agricultores podem, sim, ser protagonistas na preservação do meio ambiente. "A contribuição foi muito grande", conclui Neu, reforçando o potencial do sistema para conciliar produção agrícola e sustentabilidade.

Reativação do CAT

Há dois anos, o Clube Amigos da Terra foi reativado no município de Quinze de Novembro, sob a presidência de Vanderlei Neu, com o objetivo de promover a integração entre o plantio direto e a preservação ambiental. Por meio de palestras, dias de campo e eventos educativos realizados em propriedades locais, o clube busca conscientizar os agricultores sobre a necessidade de ir além do simples ato de plantar sem revolvimento do solo. "Precisamos aumentar o aporte de palhada no sistema e cuidar do solo como um todo", afirma Neu, destacando que o imediatismo não é compatível com a sustentabilidade.

A experiência de três décadas com o plantio direto tem mostrado resultados cada vez mais relevantes, especialmente em períodos de estiagem severa, como o vivido atualmente na região. Neu relata que, enquanto a média do município não deve ultrapassar 20 sacas de soja por hectare, áreas manejadas com práticas adequadas apresentam potencial para 60 a 70 sacas. "O agricultor está se convencendo aos poucos", observa, atribuindo parte dessa mudança de mentalidade ao trabalho do Clube Amigos da Terra. A iniciativa tem incentivado os produtores a adotarem práticas que garantam maior resiliência às lavouras e benefícios ambientais a longo prazo.