Onde começa a Agricultura Regenerativa

Por Afonso Peche Filho, pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas, IAC

Onde começa a Agricultura Regenerativa

A agricultura regenerativa começa no solo, mais especificamente, com práticas que visam restaurar, preservar e enriquecer a estrutura, a fertilidade e a biodiversidade do solo. O primeiro passo é estabilizar o solo, iniciando necessariamente pelo planejamento da instalação de áreas produtivas em nível, independentemente da topografia. O planejamento em nível é fundamental em qualquer contexto para a regeneração e conservação do solo, incluindo regiões de topografia mais suave, como as áreas planas do cerrado brasileiro onde a erosão ocorre insidiosamente. Em áreas planas, muitas vezes a erosão é subestimada, pois efeitos degradativos de ocupação e uso do solo se acumulam lentamente, e quando ocorrem podem gerar perdas em grandes áreas de terra e altas quantidades de nutrientes, afetando a saúde do solo e a sua capacidade produtiva por longo tempo. O plantio em nível contribui para mitigar esse risco, preservando a camada superficial do solo, rica em matéria orgânica e nutrientes.

No contexto do Cerrado e de outras áreas agrícolas, o uso do plantio em nível é essencial. Não apenas como medida de proteção contra a erosão visível ou difusa, mas também como uma prática preventiva e regenerativa para a manutenção da estrutura, essencial para a vida do solo. Ao reduzir o escoamento superficial, o cultivo em nível limita a perda de nutrientes por lixiviação, especialmente em solos tropicais, onde os nutrientes são mais suscetíveis a serem carregados pela água. Isso contribui para uma fertilidade mais estável e reduz a necessidade de reposição constante de nutrientes.

Além do controle da erosão, o cultivo em nível possui bases científicas sólidas que justificam seu uso em todas as áreas da produção agrícola. Estudos mostram que o cultivo em nível distribui o fluxo de água, permitindo maior infiltração e recarga hídrica no solo. Esse efeito é particularmente benéfico em regiões tropicais por melhorar a disponibilidade de água para as plantas e contribuir para a manutenção dos níveis do lençol freático. Em áreas onde as linhas de contorno estão associadas a plantas de cobertura ou sistemas agroflorestais, promovem um microclima mais favorável, com menor evaporação e maior proteção contra o estresse hídrico e térmico, contribuindo para o crescimento saudável das plantas. A eficiência da atividade biológica é totalmente dependente da estabilidade hídrica e da preservação da estrutura, permitindo uma maior ativação da agregação do solo, fator fundamental para a retenção de nutrientes e o desenvolvimento radicular das plantas.

A disposição das culturas em contorno reduz o desgaste dos equipamentos, além de diminuir o impacto ambiental da mecanização e promover economia de combustível, reduzindo a emissão de carbono, especialmente nas grandes áreas contínuas. Cientificamente, o cultivo em nível funciona como uma adaptação da natureza, idealizado para enfrentar eventos de chuvas intensas, tornando as áreas cultivadas mais resilientes a condições climáticas extremas, o que é essencial em tempos de adaptação às mudanças climáticas. O cultivo em nível também diminui a quantidade de sedimentos que alcançam corpos d'água próximos, preservando a qualidade da água e evitando o assoreamento de rios, lagos e reservatórios.

A agricultura regenerativa, portanto, começa no entendimento e na aplicação de práticas que priorizam a saúde do solo, como a instalação de operações em nível. Representa uma abordagem que vai além da preservação, buscando adequação para regenerar a camada superficial dos solos, tornando os sistemas produtivos mais eficientes ao equilibrar as interações biofísicas e ecológicas. Cada prática de manejo, desde o planejamento em nível até a integração da biodiversidade, contribui para esse objetivo inicial e contínuo: restaurar e melhorar o solo como base de uma agricultura sustentável e produtiva.

Em uma abordagem mais abrangente do manejo em áreas produtivas, o plantio em nível é um fundamento universal da regeneração e da sustentabilidade agrícola. Essa prática deve, de fato, ser promovida como um princípio básico e necessário nos sistemas de agricultura regenerativa por garantir a integridade do solo e a resiliência das paisagens agrícolas no longo prazo. Podemos concluir que a agricultura regenerativa apresenta diversas técnicas que se concretizam em resultados eficazes quando realizadas em nível.