Relações entre ESG e agricultura regenerativa

Por Afonso Peche Filho, Pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas – IAC

Relações entre ESG e agricultura regenerativa
Foto: Divulgação

A sigla ESG (Environmental, Social, Governance), é amplamente utilizada para descrever os critérios que medem o impacto ambiental, social e a qualidade da governança corporativa de uma empresa ou organização. O conjunto de critérios busca avaliar a sustentabilidade e a responsabilidade de uma empresa em relação ao meio ambiente e ao impacto social de suas atividades, além de avaliar a qualidade de sua governança corporativa.

A relação entre ESG e a agricultura regenerativa é profunda e complementar, pois ambos compartilham objetivos de sustentabilidade, equidade social e boa governança, aplicados ao setor agrícola. A agricultura regenerativa pode ser considerada uma estratégia prática para alcançar os objetivos ESG em propriedades agrícolas e cadeias produtivas, alinhando critérios ambientais, sociais e de governança de maneira integrada. Existem muitas relações e interseções entre ESG e Agricultura Regenerativa.

A agricultura regenerativa tem um foco intrínseco na regeneração de ecossistemas, o que está diretamente alinhado com os princípios ambientais do ESG. Agricultura regenerativa promove práticas como plantio direto, uso de compostos orgânicos e cultivos de cobertura que aumentam a saúde do solo. No ESG, isso contribui para o sequestro de carbono, mitigação de emissões e conservação dos recursos naturais. O manejo regenerativo incentiva a preservação da biodiversidade, criando habitats diversificados que suportam serviços ecossistêmicos. ESG valoriza a proteção da biodiversidade como um indicador ambiental chave. Práticas regenerativas melhoram a infiltração e retenção de água no solo, reduzindo desperdícios e escassez hídrica. ESG destaca a eficiência no uso da água e a proteção de recursos hídricos. A agricultura regenerativa prioriza o uso de bioinsumos, diminuindo a dependência de fertilizantes e pesticidas químicos. ESG incentiva a transição para práticas menos impactantes ambientalmente.

A agricultura regenerativa tem como pilar a inclusão social, o fortalecimento das comunidades rurais e a promoção do bem-estar humano, além de incentivar cadeias curtas de abastecimento e o fortalecimento da agricultura familiar. No ESG, isso se traduz em inclusão social e melhoria da equidade econômica nas comunidades. A produção regenerativa reduz resíduos químicos em alimentos, promovendo saúde para consumidores e trabalhadores agrícolas. ESG valoriza impactos positivos na saúde e bem-estar das pessoas. Práticas regenerativas requerem treinamento e capacitação contínuos para agricultores. ESG enfatiza a criação de oportunidades educacionais e o desenvolvimento de habilidades como formas de impacto social positivo.

A agricultura regenerativa se beneficia de boas práticas de governança para ser implementada de forma eficaz e transparente, e, ao mesmo tempo, fortalece a governança dentro das cadeias produtivas, promovendo o envolvimento das comunidades locais nas decisões sobre o manejo da terra. ESG valoriza a governança participativa e inclusiva. A rastreabilidade dos produtos regenerativos é fundamental para garantir que as práticas agrícolas estejam alinhadas aos padrões estabelecidos. ESG exige transparência nas operações e na comunicação com stakeholders. Sistemas regenerativos dependem de inovação tecnológica para monitorar a saúde do ambiente produtivo e os impactos climáticos. ESG inclui a adoção de ferramentas tecnológicas para avaliar e reportar o desempenho ambiental, social e econômico.

São inúmeros os benefícios da integração entre ESG e Agricultura Regenerativa. As práticas regenerativas reduzem custos a longo prazo, ao restaurar os recursos naturais. A adoção de critérios ESG melhora o acesso a financiamento sustentável e mercados premium. Ambos reduzem os riscos ambientais (erosão, mudança climática) e sociais (conflitos, desigualdades), criando sistemas agrícolas mais resilientes. Investidores e consumidores cada vez mais exigem transparência e práticas sustentáveis, alinhando-se aos objetivos ESG e aos benefícios da agricultura regenerativa. A integração de ESG e práticas regenerativas apoia vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), como os relacionados à fome zero, mudanças climáticas e vida terrestre.

Como exemplos de aplicação, na prática, é perfeitamente possível elaborar relatórios ESG com métricas regenerativas. Empresas agrícolas podem usar métricas de saúde do solo, biodiversidade e captura de carbono como indicadores-chave em seus relatórios ESG. As Certificações Sustentáveis como "Orgânico Regenerativo" e, "Rainforest Alliance" e “GLOBAL G.A.P” entre outras, demonstram compromisso com os princípios ESG. Parcerias Público-Privadas podem promover práticas regenerativas em comunidades locais, conectando políticas públicas as iniciativas ESG.

Podemos concluir que a agricultura regenerativa fornece o "como" para implementar os princípios ambientais, sociais e de governança do ESG no setor agrícola. Essa sinergia transforma as propriedades agrícolas em sistemas resilientes, economicamente viáveis e socialmente inclusivos, atendendo às demandas contemporâneas por uma agricultura mais ética e sustentável. A figura anexa esquematiza as principais relações entre ESG e a Agricultura Regenerativa.